Revolução Francesa
Período Contemporâneo

 

Roseta

Liberté, Egalité, Fraternité, ingredientes geradores do movimento repleto de intelectuais e políticos em defesa desses princípios, princípios iluministas que iriam sacudir o século XVIII, demolir a Bastilha, derramar sangue nas ruas, pintar de vermelho a lâmina na diagonal, construir uma República e iniciar o Período Contemporâneo.

 

Faltava pão. O estado deplorável do povo foi agravado depois do exército francês se alinhar as tropas de Washington contra os ingleses em território americano. A França iria promover a independência alheia com soldados e navios pagos com reservas do tesouro do Estado. O rei Luis XVI e seus ministros estavam convencidos da oportunidade, os americanos apoiados por franceses dominariam o império britânico e encurralariam o tradicional inimigo nos limites da pequena ilha.

 

Em 1778, a fragata La Belle-Poule entrou em combate com o navio inglês HMS Arethusa. Os navios franceses impediram a fuga da frota inglesa durante a guerra da independência dos 13 estados americanos. Os americanos expulsaram os ingleses de seu território com ajuda dos franceses, fizerem a independência, e os esperançosos franceses se endividaram nos escombros da batalha. O reinado de Luis XVI foi à falência. Os ingleses voltaram ao continente americano em 1812, durante a invasão napoleônica na Rússia. Tempos depois, a terceira fragata de nome La Belle-Poule conduziria os restos mortais de Napoleão Bonaparte.

 

CAOS

 

Esvaziado em consequência da guerra, o Tesouro francês entrou em colapso. Sem pão, sem farinha, a fome entrou nas casas e o sangue nàs ruas. Assaltos, crimes, mortes. Esse ambiente político, econômico, social e intelectual foram as razões inevitáveis que provocariam a Revolução. Os banqueiros não mais emprestavam dinheiro ao Tesouro. Pesava sobre os menos favorecidos o imposto do sal, comércio sob monopólio do Estado, e os cortesãos viviam na fartura de Versalhes. O rei parecia ignorar a verdadeira situação da França.

 

Diante da quebra do Tesouro, o ministro das finanças Loménie de Brienne sugere ao rei a suspensão dos pagamentos do Estado. A ineficaz Assembleia dos Notáveis foi dissolvida em 25 de maio de 1787. Pressionado, o rei Luis XVI instalou os Estados Gerais em 5 de maio de 1789, em Versalhes, fato que não ocorria desde 1614. 

 

ESTADOS

 

À época a sociedade francesa estava dividida em três estados. O clero formava o Primeiro Estado e não pagava impostos, a nobreza compunha o Segundo Estado e os menos favorecidos, artesãos, burgueses e o povo, formavam o Terceiro Estado. Eram os Estados Gerais.

 

Descontentes com a situação, o Terceiro Estado proclama-se Assembleia Nacional em 17 de junho. Vários nobres, contam-se 47, aderiram aos revoltosos da Assembleia Nacional liderados por Luis Felipe II, duque de Orléans. No dia 9 de julho, a Assembleia proclamou-se Assembleia Nacional Constituinte. No entanto o episódio mais dramático estava para acontecer, o dia 14 de julho marcaria o calendário e mudaria a História.

 

BASTILHA

 

O dia 14 de julho. De posse das armas retiradas do arsenal dos Inválidos, os revoltosos marcharam em direção à prisão símbolo da monarquia. Iniciaram um extenso combate com a pequena guarnição do presídio, uma construção medieval que outrora fora o portal de entrada da cidade em direção ao bairro Sant-Antoine. Após quatro horas de confronto, os revoltosos tomaram a prisão. O episódio denominado a Tomada da Bastilha (La prise de la Bastille) carimba a Revolução Francesa de forma irreversível e torna-se o dia da comemoração oficial.

 

Assassinado o governador da Bastilha, o marquês de Launay, o povo liberta os prisioneiros e inicia um alucinado desfile. Na frente, um grupo formado por sete presos, um louco e alguns ladrões, e a seguir a um estandarte macabro, a cabeça do governador espetada na ponta de uma lança. Os motins se espalharam em Paris e depois nos campos. Os amotinados pilharam igrejas, queimaram colheitas, incendiaram casas.

 

Entre os três principais acontecimentos que deram origem à Revolução, em ordem cronológica, observamos a revolta da nobreza em negar o pagamento de impostos, em segundo, a formação da Assembleia Nacional Constituinte e o juramento da Sala do Jogo de Pela (Serment du jeu de paume), o juramento dos representantes na Assembleia, Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Marcantes e decisivos seriam os eventos ocorridos depois, a queda da Bastilha e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

 

MARCHA DAS MULHERES

 

Aconteceu no dia 5 de outubro, as mulheres do mercado de Paris protestavam contra o alto preço do pão, quando o pão aparecia. As manifestantes se uniram aos revolucionários que exigiam a monarquia constitucional, saquearam o arsenal de armas da cidade e marcharam para Versalhes. A marcha durou seis horas. Os rebelados marcharam 21 km, a multidão sitiou o palácio e o confronto espetou mais cabeças em lanças, dessa vez a dos soldados dedicados à defesa dos reis.

 

Mesmo diante desse terrível cerco ao palácio, os momentos de maior violência da Revolução ainda se encontravam à distância. Reunidos em Versalhes, os deputados da Assembleia Nacional Constituinte aprovaram os Decretos de Agosto, decretos que aboliam os privilégios da nobreza e do clero e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Os novos rumos desagradavam o rei e os privilegiados.

 

Famintos, cansados, enlameados, assim os rebelados chegaram a Versalhes e ocuparam os assentos da Assembleia. Vaiaram alguns oradores que pretenderam fazer uma saudação e quiseram a presença do deputado reformista Mirabeau. O hábil deputado se misturou à multidão e passou a conversar com as mulheres da marcha. Outros parlamentares saudaram os manifestantes e um advogado agradou com seu discurso de compreensão e apoio, conseguiu inclusive amenizar a hostilidade da multidão. O desconhecido advogado era o deputado Maximillien de Robespierre.

 

COMITIVA

 

Pressionados, encurralados, o presidente da Assembleia Jean Joseph Mounier acompanhou a comitiva formada por seis mulheres escolhidas entre as demais. O grupo foi escoltado até Luis XVI. O rei as recebeu e mandou distribuir alimentos. A multidão não estava conformada, compreendeu que a comitiva se deixou enganar e desconsiderou as promessas recebidas. Era tarde da noite quando as tochas dos soldados de La Fayette despontaram na Avenue de Paris. Seriam tropas de reforço. Ao amanhecer, havia um nítido entendimento entre os guardas de La Fayette e as mulheres do mercado.

 

ATAQUE AO PALÁCIO

 

Alguns manifestantes descobriram um portão desprotegido e iniciaram a entrada no palácio real, os guardas tentaram fechar as portas internas e alguns dispararam contra os manifestantes. Enfurecidos, não tardou a repetição das cabeças de soldados espetadas em lanças. A rainha e suas aias correram para o quarto do rei. La Fayette e os soldados reconciliados com os deveres militares conseguiram esvaziar o palácio, retiraram a multidão. Nos jardins, os rebeldes continuavam inconformados. Vive Le Roi! Gritou o povo ao ver o rei acompanhado de La Fayette na sacada do palácio. O rei prometeu voltar a Paris. Os manifestantes quiseram ver Maria Antonieta. Ela apareceu na sacada acompanhada dos filhos, Luis e Maria Teresa, e mais uma vez a multidão enfurecida exigiu somente a presença da rainha. La Fayette entendeu a perigosa ameaça e aproveitou um dos poucos momentos de silêncio da multidão para testar o seu talento. Aproximou-se da rainha com reverência e ajoelhado beijou a mão de Maria Antonieta. Vive la Reine!

 

DE VOLTA A PARIS

 

Em 6 de outubro os reis voltam a Paris acompanhados por mais de 60 mil manifestantes, um grupo de aproximadamente 100 deputados e na frente a Guarda Nacional. Mais uma vez o macabro desfile, cabeças espetadas em lanças e tiros comemorativos. A mesma sensação de vitória experimentada em outras ocasiões. Os reis foram acolhidos no decadente Palácio das Tulherias, abandonado desde o reinado de Luis XIV.

 

A seguir, algumas datas significativas no processo revolucionário.

 

- 2 de novembro de 1789
Nacionalização dos bens de rendimento da Igreja Católica.
- 19 de abril de 1790
Nacionalização de todos os bens da Igreja Católica.
- 12 de julho de 1790
Constituição Civil do Clero.
- 14 de junho de 1791
Lei de Le Chapelier, proíbe a existência de sindicatos de trabalhadores e
de greves, sob pena de morte.

 

FUGA DE VARENNES

 

Luis XVI e sua família fogem de Paris. O projeto de fuga fora arquitetado muito antes dos dias 20 e 21 de junho por Hans Axel Von Fersen. A família real iria em direção a Montmédy, encontrariam o marques de Bouillé, general comandante das tropas de Meuse, Sarre e Moselle. A berlinda que os conduziriam estava registrada em nome da baronesa de Korff, e cada viajante possuía uma identidade falsa. Eles partem das Tulherias com atraso, o relógio marcava 1 hora e 50 minutos da madrugada do dia 21 de junho. Partiram o rei Luis XVI, a rainha Maria Antonieta, a filha Maria Teresa de França, o delfim, a marquesa Louise-Elisabeth de Croÿ de Tourzel e madame Elisabeth, a irmã do rei. Viajavam disfarçados de membros da família Korff.

 

O conde de Provence, futuro Luis XVIII de França, sai de Paris bem cedo em companhia de seu amigo d’Avaray e chega sem dificuldades à Bélgica. Na Bélgica, em Marche, ele saberá da detenção de Luis XVI, seu irmão. Depois de várias dificuldades vencidas, mais de 10 horas nas estradas, reconhecidos e liberados por Jean-Baptiste Drouet no posto de Sainte-Menehould, fato que se repetiria em Clermont-en-Argonne. Em Varennes a família real é mais uma vez reconhecida. Mas desta vez a sorte mudou, os revoltosos presentes na cidade não permitiram que a família seguisse em fuga. Luis XVI, Maria Antonieta e os demais acompanhantes foram detidos.

 

Soam os sinos da Revolução.

 

A liberdade guiando o povo

A liberdade guiando o povo,
Eugène Delacroix (foto), 1830, Louvre.
Tomada da Bastilha,
Jean-Pierre Louis Laurent Houël. 

 

Delacroix
Jean Pierre-Louis Laurent Houël
Bastilha

Empreiteiro especializado em obras públicas, Pierre-François Palloy foi contrato para fazer a demolição definitiva da Bastilha em outubro de 1789. Fala-se em 1000 trabalhadores mobilizados. O empreteiro organizou passeios guiados nos porões da prisão, promoveu peças teatrais, escreveu discursos, pintou quadros. Das pedras retiradas da Bastilha, os blocos maiores foram parar na Pont de la Concorde e o blocos menores foram esculpidos, tranformando-se em pequenas Bastilhas. O empreiteiro soube criar várias fontes de riquezas. Alguns livros afirmam que a quantidade dessas esculturas ultrapassa o razoável, muitas seriam falsas. As "miniaturas" eram presenteadas às autoridades ou vendidas aos compradores ricos, e mediam aproximadamente um metro de comprimento. No Musée Carnavalet, podemos apreciar uma delas. É linda.

Chaves Conciergerie

Chaves da Conciergerie usadas nas celas
daqueles que iriam ser decapitados.
Museu Conciergerie / foto / acervo Brasil Editor.

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
em  26 de agosto de 1789.

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Voltaire

 Voltaire / bronze / acervo Brasil Editor.

Rousseau Robespierre

Jean-Jacques Rousseau                                                                                Maximilien de Robespierre