Brasil Editor
Contemporâneo
O mal estar
na civilização
RESUMO DAS AULAS
regpina@gmail.com
Interpretação sobre os textos do livro
O mal estar na civilização
Tradução de Paulo César de Souza
Capítulo 1
Em carta datada de 1927 e dirigida a Sigmund Freud, Romain Rolland concebe a frase Sentimento Oceânico ao se referir à sensação de eternidade, inspirado em Ramakrishna. Sentimento Oceânico seria a sensação do Eterno sem limites perceptíveis: o Eu e o mundo exterior formam uma unidade.
O ser humano adquire a noção do seu vínculo com o mundo de forma gradativa. Em princípio o Eu se considera uma instância autônoma, unitária, com limites demarcados.
O Eu se estende para o interior, em direção a uma entidade psíquica inconsciente, sem fronteiras demarcadas: ID.
Estado de apaixonamento
As fronteiras entre o Eu e o o bjeto ameaçam desaparecer:
Estado temporário
Princípio do prazer
É o princípio que protege o bebê das sensações de dor e desprazer. Ao perceber que as sensações de dor e desprazer podem surgir do mundo interno e externo, nasce o Princípio da realidade.
Princípio da realidade
Este princípio irá governar nossas vidas. Estágios anteriores do desenvolvimento permanecerão junto às configurações definitivas. O Eu percebe as ameaças vindas do mundo exterior e procura meios para se proteger.
"Eu não saberia indicar uma necessidade vinda da infância que seja tão forte quanto a de proteção paterna. Desse modo, o papel do sentimento oceânico, que poderia buscar o restabelecimento do narcisismo ilimitado, é excluído do primeiro plano. Podemos rastrear a origem da atitude religiosa, em claros contornos, até o sentimento do desamparo infantil. Talvez se encontre algo mais nisso, mas atualmente está envolto em névoas."
Rua Berggasse, 19, residência e consultório de
Freud na Áustria. Hoje museu, o local foi recentemente restaurado.
Capítulo 2
O Futuro de uma ilusão, escrito em 1927
Para Freud a religião oferece ao indivíduo a satisfação de suas necessidades em outra vida, o que ocorre em troca de submissão. Seria uma ilusão relacionada ao desamparo infantil.
"A vida, tal como nos coube, é muito difícil para nós, traz demasiadas dores, decepções, tarefas insolúveis. Para suportá-la, não podemos dispensar paliativos. (...) Existem três desses recursos, talvez: poderosas diversões, que nos permitem fazer pouco de nossa miséria, gratificações substitutivas, que a diminuem, e substâncias inebriantes, que nos tornam insensíveis a ela."
O ser humano busca a felicidade, a vivência de fortes prazeres e ausência de dor e desprazer (...) "o que revela a própria conduta dos homens acerca da finalidade e intenção de sua vida, o que pedem eles da vida e desejam nela alcançar? É difícil não acertar a resposta: eles buscam a felicidade, querem se tornar e permanecer felizes. Essa busca tem dois lados, uma meta positiva e uma negativa; quer a ausência de dor e desprazer e, por outro lado, a vivência de fortes prazeres". No sentido mais estrito da palavra, felicidade se refere apenas à segunda.
O sofrimento ameaça o indivíduo
a partir de três lados:
* Do próprio corpo.
* Das forças do mundo externo.
* Das relações com os outros seres humanos.
Métodos para evitar o desprazer,
segundo Freud:
* Isolamento.
* Participação na comunidade humana.
* Intoxicação.
* Sublimação dos instintos.
* Comportamento de eremita.
* Amor.
* Gozo em função da beleza.
* Desenvolvimento de estados neuróticos.
* Tornar-se religioso.
"O melhor resultado é obtido quando se consegue elevar suficientemente o ganho de prazer a partir das fontes de trabalho psíquico e intelectual."
Capítulo 3
Impedimentos da felicidade
* Prepotência da natureza.
* Fragilidade do corpo.
* Insuficiência das normas que regulam
os vínculos humanos na família,
sociedade e Estado.
Nas duas primeiras fontes citadas, a rendição ao sofrimento é inevitável. Na terceira fonte, a social, admite-se a possibilidade do fracasso na prevenção ao sofrimento em consequência da natureza indomável presente na constituição psíquica.
Nossa civilização
Diante das pesquisas, Freud se depara com espantosa afirmação: “... boa parte da culpa por nossa miséria vem do que é chamado de nossa civilização; seríamos bem mais felizes se a abandonássemos e retrocedêssemos às condições primitivas”. Ao imaginar retroceder às condições primitivas, Freud afirma que “É hora de nos voltarmos para a essência desta civilização, cujo valor para a felicidade é posto em dúvida”. A civilização parece ser responsável por nossa miséria e como consequência causa hostilidade ao indivíduo.
Três eventos relacionados à hostilidade
* Papel do cristianismo que deprecia
a vida terrena.
* Ilusão de que os povos primitivos
seriam mais felizes.
* A neurose que ameaça a felicidade
do homem civilizado.
Outros fatores de decepção
* Avanços tecnológicos.
* Desenvolvimento da ciência.
* Poder parcial sobre a natureza.
Freud nos alerta que esses eventos não adicionam felicidade humana. “... basta-nos então repetir que a palavra “civilização” designa a inteira soma das realizações e instituições que afastam a nossa vida daquela de nossos antepassados animais que servem para dois fins: a proteção do homem contra a natureza e a regulamentação dos vínculos dos homens entre si”.
Cultura
* Primeiros atos culturais.
* Uso de instrumentos.
* Domínio sobre o fogo.
(disputa da potência sexual
entre os homens)
* Construção de moradias, retorno
ao útero materno.
Exigências culturais da civilização
* Beleza.
* Ordem.
* Limpeza.
* Regulamentação das relações entre
os indivíduos.
* Poder individual substituído pelo bem
estar da comunidade.
* Busca pelo equilíbrio entre as exigências
individuais e as do grupo.
Evolução cultural
Surge como um processo peculiar crescente
na humanidade e produz
mudanças nas disposições instintuais,
ao buscar satisfação.
Traços de caráter
* O instinto se torna traço de caráter.
(erotismo anal da criança)
* Sublimação dos instintos.
(traço saliente da evolução cultural)
*Renúncia dos instintos, frustração, hostilidade.
(necessidade de algum nível
de satisfação pulsional)
Capítulo 4
O homem primitivo descobre o outro individuo como colaborador. “Ainda antes, em sua pré-história antropoide, ele havia adotado o hábito de construir famílias; os membros da família foram provavelmente os seus primeiros ajudantes”, portanto os primeiros ajudantes foram os membros dessas famílias.
Freud supõe que a formação da família se relaciona à satisfação genital: homem-mulher-filhos.
Na família primitiva falta uma característica da civilização: “a arbitrariedade do pai e chefe não tinha limites”. Diante desse sistema, surge a revolta dos filhos: assassinato do pai.
“Em Totem e tabu procurei mostrar o caminho que levou dessa família ao estágio seguinte da vida em comum, os bandos de irmãos. A vitória sobre o pai havia ensinado aos filhos que uma associação pode ser mais forte que o indivíduo.”
Essa é a cultura totêmica: a restrição que uns tiveram que impor aos outros, já o tabu constitui os primeiros direitos dos seres humanos.
A vida humana em comum passa a ter
um duplo fundamento:
* Compulsão ao trabalho .
* Poder do amor .
O homem dependente do objeto
externo, do amor:
* Amor voltado para o objeto sexual,
constituindo as famílias.
* Amor inibido na meta, o que propicia
a formação das amizades,
amar a todos os indivíduos.
* Um amor que não escolhe o objeto comete
injustiça com esse objeto.
"Além disso, nem todos os humanos
são dignos de amor."
* Conflito entre família e comunidade.
* O amor se opõe aos interesses da cultura.
* A cultura ameaça o amor com
sensíveis restrições .
* A mulher adota atitudes hostis frente
à cultura, sente-se em segundo plano.
* O homem dispensa energia psíquica
no trabalho.
* A cultura restringe a vida sexual.
Proibição do incesto
* Leis, costumes que restringem a vida sexual
dos seres humanos.
* Relações heterossexuais com finalidades
de procriação.
* As desigualdades na constituição sexual inata
e adquirida dos seres humanos se torna fonte
de grave injustiça.
* Satisfações extragenitais interditadas
como perversões.
* Não apenas a pressão da cultura,
mas algo da essência da própria função
nos recusa a plena satisfação e nos impele
por outros caminhos.
“A vida sexual do homem civilizado está mesmo gravemente prejudicada, às vezes parece uma função que se acha em processo involutivo, como nossos dentes e nossos cabelos enquanto órgãos”, avalia Freud.
Totem e tabu, livro editado em 1913, no qual Freud aborda a psicanálise aplicada aos campos da arqueologia, antropologia e religião. Subtítulo em alemão: Einige Übereinstimmungen im Seelenleben der Wilden und der Neurotiker.
“Baseando-se em estudos de antropologia, biologia e história, Freud lança a conjectura de que o ato fundador da sociedade humana foi o assassinato do pai da horda primitiva pelos próprios filhos. Totem e tabu foi a primeira aplicação da psicanálise a questões de psicologia social.”
Capítulo 5
Frustrações da vida sexual
As frustrações da vida sexual não são suportadas pelos neuróticos, os sintomas e as gratificações substitutivas criam dificuldades com o meio ambiente e a sociedade, tornam-se causa de sofrimento.
Dificuldade da evolução cultural relacionada à inércia da libido, relutância em trocar uma posição antiga por uma nova.
Civilização X Sexualidade
Amor sexual - relação entre duas pessoas
Civilização - vínculos entre muitas pessoas
A Civilização estabelece fortes identificações entre os indivíduos, mobiliza em grau máximo a libido inibida na meta para fortalecer os vínculos comunitários por meio das relações de amizades, limitando a vida sexual.
Objetivo da civilização
Exigências ideais da sociedade civilizada, reivindicação do cristianismo:
"Ama teu próximo como a ti mesmo"
O amor é algo precioso, não podendo dispender de forma irresponsável,
impõe deveres e sacrifícios.
Quando amo outrem,
ele deve merecer o meu amor
1) Posso amar a mim mesmo no outro.
2) O outro é mais perfeito do que eu, nele irei amar o meu ideal.
3) É filho do meu amigo, logo compartilharei a dor do pai.
(Itens com interpretação livre sobre o texto freudiano)
Dificilmente alguém poderá amar um desconhecido que não tenha significação emocional ou apresente valor próprio, seria injusto dedicar a ele o mesmo amor que dedico aos meus.
Esse desconhecido não é digno de amor, ele merece hostilidade, ódio. Ele não tem amor, portanto irá prejudicar, zombar, ofender, caluniar, exibir seu poder e deixar o próximo desamparado. "Ama teu próximo como ele te ama".
Amar o teu inimigo que não é digno de amor é
estabelecer prêmios para a maldade
"O ser humano não é uma criatura branda, ávida de amor que no máximo pode se defender ao ser atacado. Possui forte dose de agressividade, o outro para ele não constitui apenas um colaborador ou objeto sexual, mas sim um objeto para satisfazer seus impulsos agressivos, explorá-lo, usá-lo sexualmente contra sua permissão, usurpar seu patrimônio, causar-lhe dor, torturá-lo e matá-lo."
Quando as forças psíquicas inibidoras estão ausentes, os seres se expressam de forma espontânea, como bestas selvagens que não poupam os da sua espécie, considera Freud.
"O homem é o lobo do homem"
Plauto / Thomas Hobbes
Essa agressão presente em todos os indivíduos é o fator que perturba nossa relação com o próximo e obriga a civilização a exercer o controle para não sucumbir.
A Civilização coloca limites nos instintos agressivos dos indivíduos. Assim, necessita criar condições para esses indivíduos estabelecerem identificações e relações amorosas inibidas em sua meta, restringir a vida sexual, incentivar o mandamento "Ama o próximo como a ti mesmo", mandamento contrário à natureza humana.
Na Civilização ocorre o direito de punir a violência contra os infratores. A vida pode ser atormentada e dificultada pela malevolência.
Diz um princípio do Direito Consuetudinário: do uso nasce o hábito, do hábito nasce a costume, do costume nascem as leis (Arthur Machado Pauperio na fala do professor Paulo Condorcert).
Na pré-história a agressividade já se manifestava, na infância, na base da relação amorosa entre as pessoas.
Ao eliminarmos o direito pessoal e a propriedade privada, citavam os comunistas, desapareceria a malevolência, a inimizade entre os seres humanos. Freud discorda. Os princípios causadores da malevolência não seriam estes, seriam as agressividades naturais do homem e as relações sexuais que constituem fatores de poder. Se eliminarmos a família e as restrições, ainda assim a agressividade persistirá.
"Narcisismo das pequenas diferenças"
Espécie de repugnância gratuita e primária que temos por pessoas ou grupos do nosso meio social. Mesmo em convivência harmoniosa, haverá pontos conflitantes no convívio.
Freud definiu em 1918 o que pode levar um grupo, uma cidade, um país a não aceitar essas pequenas diferenças. A não aceitação poderá criar rixas e guerras.
A cultura impõe sacrifícios à sexualidade e ao pendor agressivo do homem, o que torna fácil compreender a dificuldade de ser feliz.
O homem primitivo não conhecia restrições. No entanto apenas o chefe não se submetia às leis, os demais membros da tribo eram subjugados e escravizados. O homem civilizado trocou um tanto de felicidade por um tanto de segurança.
"Miséria psicológica da massa"
Identificação dos membros entre si. As individualidades não adquirem a importância que lhes deveria caber na formação da massa. Com o surgimento do líder, aparece o enfraquecimento da responsabilidade individual no coletivo, comportamento da multidão como entidade única: o indivíduo tende a seguir o líder carismático. Os impulsos normalmente reprimidos vêm à tona, as restrições do superego são relaxadas, o controle do ego sobre o id diminui.
Capítulo 6
Dificuldade no desenvolvimento da
teoria dos instintos
Para Freud, a frase do poeta-filósofo Schiller
significou o ponto de partida:
“a fome e o amor” sustentam a máquina
do mundo.
* Encontramos na fome os instintos
que desejam manter o ser individual.
* O amor procura os objetos,
visa a conservação da espécie.
Confronto entre instintos do Eu e instintos objetais. Freud denominou essa energia de libido. Oposição entre os instintos do Eu e os do amor no sentido lato. Instintos libidinais.
Sadismo
Sadismo faz parte da vida sexual – O jogo da crueldade pode suceder ao da ternura. A neurose surge como desfecho da luta entre o interesse da autopreservação e as exigências da libido. Aqui, o Eu vencera ao custo de sofrimento e renúncia.
O reprimido e o que reprime
É introduzido o conceito de narcisismo. Dos instintos objetais para o Eu. Neste ponto surge a necessidade do conceito de narcisismo. O Eu se acha investido de libido. A libido narcísica volta-se para os objetos, torna-se a libido objetal e pode transformar-se novamente em libido narcísica.
Compreensão das neuroses traumáticas (neuroses de guerra), psicoses por meio do conceito de narcisismo. Os instintos do Eu também são libidinais, o Eu tenta se defender da sexualidade (neuroses de transferência).
Além do princípio do prazer (1920)
* Conceito.
* Compulsão de repetição.
* Caráter conservador da vida instintual.
* Em oposição aos instintos de conservação,
surge o instinto que busca dissolver essas
unidades e conduzi-las
ao estado primordial inorgânico.
Ao lado de Eros, um instinto de morte
“Leva-nos mais longe a ideia de que uma parte do instinto se volta contra o mundo externo e depois vem à luz como instinto de agressão e destruição.”
* O instinto seria obrigado ao serviço de Eros.
* Voltada para fora, a limitação dessa agressão
aumentaria a autodestruição.
* Os dois instintos surgem conjuntamente
em proporções diferentes e variadas.
* Sadismo em oposição ao masoquismo.
“... as crianças não gostam de ouvir, quando se fala da tendência inata do ser humano para o “mal”, para a agressão, a destruição,
para a crueldade, portanto.”
“... pode-se pedir a Deus satisfações pela existência do Diabo...”
Conclusão
O material recalcado permanece no inconsciente, e o ego bloqueia sua tentativa de chegar à consciência ao evitar o desprazer. O indivíduo inicia um processo de repetição, as experiências e comportamentos desagradáveis que não trazem prazer, apenas tentam estabelecer o equilíbrio psíquico. Freud desenvolveu a lógica do pensamento psíquico, um “Além do princípio do prazer”.
A compulsão de repetição seria a tentativa do ego de dominar o recalcado. A repetição indica que “... a pulsão é um impulso inerente à vida orgânica, busca restaurar um estado anterior de coisas.”
O cientista admite nos sonhos traumáticos, nos jogos infantis, fenômenos de transferências dos neuróticos, um caráter conservador e regressivo, o que caracteriza a pulsão de morte em oposição à pulsão de vida. Os instintos de vida e morte passam a dirigir o funcionamento psíquico.
Compulsão de repetição é uma característica intrínseca do instinto, uma busca por um estado anterior de vida (inércia da libido). Essa compulsão se coloca acima do princípio do prazer, interfere no funcionamento psíquico relacionado à pulsão de morte.
Capítulo 7
No desenvolvimento das sociedades, os animais apresentam equilíbrio momentâneo entre as influências do meio e os instintos em constante conflito mútuo. No homem primitivo, o avanço da libido renova a oposição do instinto de destruição.
Como a cultura eliminará a agressividade
com o qual se defronta?
A agressividade é introjetada, internalizada, mandada de volta para o lugar de onde veio, dirigida contra o próprio Eu. Acolhida por uma parte do Eu, se contrapõe ao resto como Super-eu, como "consciência". Ela, a "consciência", exercerá contra o Eu a severa agressividade que o Eu gostaria de satisfazer em outros indivíduos. Segundo Freud, chamaremos de consciência de culpa a tensão entre o rigoroso Super-eu e o Eu a ele submetido: a necessidade de punição. Ao enfraquecê-lo, o Eu, a civilização controlará o prazer de agredir.
Origem do sentimento de culpa
* O indivíduo se sente culpado
quando faz algo considerado "mau".
* Mesmo quem não fez esse mal reconhece
o propósito de fazê-lo,
pode se considerar culpado,
existe o desejo de executar o ato.
Nos dois casos o indivíduo já reconheceu
o mal como repreensível
* Distinção entre o bem e o mal.
* O mal é algo nocivo e perigoso para o Eu,
mas algo que ele deseja e lhe dá prazer.
* A influência externa mostrará o bem e o mal,
o indivíduo se submeterá por conta
do desamparo, o medo da perda do amor.
* O mal é aquilo que ameaça o indivíduo
de perder o amor, o perigo aparece quando
a autoridade descobre esse elemento.
* "Má consciência" - consciência de culpa,
seria o medo da perda do amor, o amor "social".
No adulto a sociedade humana substitui
o lugar do pai
O ser humano realizará o mal que lhe for agradável se tiver certeza da impunidade. A mudança ocorre apenas quando a autoridade externa é internalizada perante o surgimento de um Super-eu. Fenômenos de consciência chegam a outro estágio: consciência e sentimento de culpa. Aqui desaparece o medo de ser descoberto: termina a diferença entre o fazer o mal e desejar o mal. Diante do Super-eu nada pode se esconder, nem os pensamentos.
O Super-eu não tem motivos para maltratar o Eu, mas atormentará o Eu pecador com as mesmas sensações de angústia e ficará à espera de uma oportunidade para puni-lo no mundo exterior.
Segundo estágio de desenvolvimento
Quanto mais virtuoso o indivíduo, mais severamente ele se comporta. Os que possuem maior santidade se recriminam, a virtude perde algo de recompensa. O Eu dócil e abstinente não goza da confiança de seu mentor, esforça-se para conquistá-la.
Santos e tentações
A frustração contínua faz crescer a tentação e a satisfação ocasional a diminui temporariamente. Quando a frustração vem do exterior promove o poder da consciência no Super-eu. Ao ser atingido por uma infelicidade, o ser humano reconhece sua pecaminosidade, eleva as reivindicações da consciência, impõe-se privações e castiga a si próprio com penitências. O estágio original infantil da consciência não é abandonado após a introjeção do Super-eu. Subsiste junto e por trás da consciência.
O infortúnio significa que o indivíduo não é mais amado pelo poder supremo (substituto da instância parental). Ameaçado por essa perda de amor, inclina-se novamente ante a representação dos pais no Super-eu, sentimento que negligencia nos momentos de fortuna. Os povos primitivos no infortúnio não atribuiam a culpa a si próprios, mas ao fetiche que não cumpriu suas obrigações e por isso será castigado. O indivíduo civilizado se julga culpado.
Sentimento de culpa
* Medo da autoridade que nos obriga
a renunciar às satisfações instintuais.
* Medo do Super-eu que nos leva ao castigo.
Não se pode ocultar os desejos
proibidos ao Super-eu.
O Super-eu dá continuidade ao rigor
da autoridade externa e irá substituí-la.
Relação entre renúncia ao instinto
e sentimento de culpa
Renúncia ao instinto é resultado do medo à autoridade externa, renuncia-se à satisfação para não perder o amor. Na renúncia não deveria haver sentimento de culpa.
Em relação ao medo ante o Super-eu, a renúncia instintual não é suficiente, uma vez que o desejo persiste e não podes ser escondido do Super-eu. Apesar da renúncia efetuada, produz-se um sentimento de culpa: a renúncia não tem efeito liberador.
* Renúncia instintual devido ao medo
da agressão da autoridade externa
e perda do amor.
* Estabelecimento da autoridade interna,
renúncia instintual devido ao medo
da consciência.
Renúncia à agressão
A parcela de agressividade não satisfeita é acolhida pelo Super-eu e aumenta a agressividade deste contra o Eu. Agressividade original da consciência é prosseguimento do rigor da autoridade externa, não se relaciona com a renúncia.
Primeira dotação agressiva
do Super-eu
A agressividade se desenvolve na criança contra a autoridade que lhe impediu as primeiras e mais significativas satisfações. Esse impedimento cria a agressividade vingativa. Essa autoridade inatacável será o Super-eu e entrará em posse de toda agressividade que a criança gostaria de exercer contra a autoridade. O Eu da criança tem que se contentar com o papel da autoridade degradada do pai.
A severidade do Super-eu não reflete
necessariamente a severidade do tratamento
recebido em criança
Fatores atuantes
* Rigor na educação.
* Fatores herdados.
* Influências do meio.
Freud relata que o sentimento de culpa da humanidade viria do Complexo de Édipo, quando os filhos desejam matar o pai. O arrependimento não desfaz a origem da consciência e do sentimento de culpa, a consciência e a disposição para sentir-se culpado já existiam anteriormente. O sentimento de culpa é a expressão de ambivalência da eterna luta entre Eros e o instinto de destruição ou morte. O conflito na família se manifesta no complexo de Édipo, institui a consciência, cria o primeiro sentimento de culpa. Na comunidade ocorre a intensificação do sentimento de culpa e o que teve início com o pai se completa na massa.
Capítulo 8
Sentimento de culpa como problema
fundamental na evolução cultural
O preço do progresso cultural é a perda da
felicidade ao suportarmos o
acréscimo do
sentimento de culpa
Relação entre sentimento de culpa e consciência
O sentimento de culpa na neurose obsessiva se impõe de forma ostensiva à consciência. Em outras neuroses, o sentimento de culpa permanece totalmente inconsciente e se expressa por necessidade de castigo.
O sentimento de culpa é uma variedade topográfica da angústia. Em suas fases posteriores coincide inteiramente com o medo ao Super-eu.
* Angústia se encontra por trás de todo sintoma .
* Consciência de culpa é produzida na cultura,
permanece inconsciente ou
surge como mal estar, insatisfação.
* Redenção no cristianismo com a morte sacrificial
de um indivíduo que toma a si a culpa comum
a todos - culpa inicial.
* Super-eu - Instância internalizada.
* Consciência - Uma das funções atribuídas ao Super-eu, vigiar
os atos e intenções do Eu, julgar, censurar.
* Sentimento de culpa - A dureza do Super-eu, a severidade
da consciência, percepção do Eu em ser vigiado.
* Arrependimento - Reação após a agressão ter se realizado.
A tensão entre os esforços do Eu e as
exigências do Super-eu produz o medo ante
essa instância crítica.
A necessidade de castigo é uma expressão
instintual do Eu que emprega parte do instinto
para a destruição interna ao
estabelecer uma ligaçãoerótica com o Super-eu.
* Consciência moral - Surge apenas após a existência do Super-eu,
a consciência de culpa se apresenta antes do Super-eu,
antes da consciência moral.
* Expressão imediata do medo em relação à autoridade externa,
o reconhecimento da tensão entre o Eu e a autoridade externa deriva
do conflito entre a necessidade do amor e o ímpeto de satisfação instintual, cuja ambição gera tendência à agressão.
Superposição de 2 camadas de
sentimento de culpa
* Medo da autoridade externa.
* Medo da autoridade interna.
* Arrependimento - Reação do Eu em caso de sentimento de culpa,
sensações de angústia que funcionam como castigo.
Sentimento de culpa
* Consequência de agressões não realizadas.
* Início histórico - parricídio - consequência de uma agressão realizada.
Após a introjeção da autoridade externa.
(Super-eu) o sentimento de culpa pode ser gerado por uma violência consumada ou apenas intencionada.
* Sentimento de culpa por arrependimento em
virtude da má ação é consciente.
* Percepção do “mau” impulso (intenção) é inconsciente.
Energia agressiva do Super-eu
* Energia primitiva da autoridade externa.
* Primeira agressividade (complexo de Édipo)
dirigida contra essa autoridade inibidora.
Os sintomas das neuroses são satisfações
substitutivas para desejos
sexuais não realizados
* Toda neurose pode esconder sentimento de culpa inconsciente
que fortalece os sintomas e os utiliza como punições.
Quando uma tendência instintual
sucumbe à repressão, seus elementos libidinais se transformam
em sintoma, seus componentes agressivos
em sentimento de culpa.
Luta entre Eros e o instinto de morte
caracteriza o processo cultural da
humanidade e o desenvolvimento do indivíduo
* Integração do indivíduo em grupo.
princípio do prazer - satisfação da felicidade - egoísmo.
* Integração em comunidades além do grupo - condição para alcançar a felicidade - altruismo.
* Disputa entre a distribuição de libido (o Eu) e os objetos.
* A comunidade forma um Super-eu cultural, severas exigências, punições.
* Super-eu da cultura representa a ética, ponto mais frágil da cultura.
* Como afastar o pendor constitucional do indivíduo para agressão mútua
“ama teu próximo como a ti mesmo”.
* Super-eu individual se preocupa muito pouco com a felicidade do Eu, não levando em conta as resistências no cumprimento das exigências, a força instintual do Id e as dificuldades da realidade.
* Super-eu cultural também não se preocupa com os fatos da constituição psíquica do indivíduo.
* O Eu não tem domínio irrestrito sobre o Id, exigências produzem neuroses e infelicidade.
"Ama teu próximo como a ti mesmo"
É a mais forte defesa contra a agressividade humana, ética religiosa e promessa de um além túmulo melhor
* Que poderoso obstáculo à cultura deve ser a agressividade,
se a defesa contra ela pode tornar o Eu tão infeliz.
* Diagnóstico das neuroses das comunidades.
* Patologia das comunidades culturais.
Eros luta contra o instinto de morte
Ao limitar a vida sexual, a natureza impõe o ideal humanitário. A questão decisiva para a espécie humana é saber em que medida sua evolução cultural poderá controlar as perturbações trazidas à vida em comum por instintos humanos de agressão e autodestruição.