Neurose, Psicose, Perversão

RESUMO DAS AULAS

Grupo de Estudos Freud

regpina@gmail.com

Interpretação sobre os textos do livro
Neurose, psicose, perversão
Tradução Maria Rita Salzano Moraes

 

Manuscrito H

Anexo  à carta dirigida a Fliess,
24 de janeiro de 1895

 

Paranoia

 

A representação na psiquiatria delirante situa-se juntamente com a representação  obsessiva, como um distúrbio intelectual. A paranoia e a loucura obsessiva  se situam como psicose intelectual. A paranoia crônica, a histeria, assim como a neurose obsessiva e a confusão alucinatória, consistem em formas patológicas de defesa contra algo impossível de suportar.

 

A paranoia tem como objetivo  defender o Eu de uma representação  intolerável. Seu conteúdo é projetado  no mundo exterior. Trata-se de um mecanismo psíquico utilizado frequentemente: a transposição ou projeção. Nas representações  obsessivas, o mecanismo de substituição também é utilizado; substituímos um objeto interno por um objeto externo. Na histeria o conteúdo da representação é isolado, o afeto se transforma em conversão ao corporal. Considerada como psiconeurose. Na representação obsessiva o afeto permanece conservado, o conteúdo é substituído. 

 

Na confusão alucinatória, o afeto e conteúdo da representação são mantidos afastados do Eu, há  um desligamento do mundo externo. Surgem as alucinações favoráveis ao  Eu que apoiam a defesa. Na paranoia, o conteúdo e afeto da representação intolerável se conservam, são projetados no mundo externo. Surgem alucinações hostis ao Eu que reforçam a defesa.

 

Paranoia e confusão alucinatória são as duas psicoses de desafio ou oposição. A "referência a si mesmo" sempre procura mostrar que a projeção está correta.

Manuscrito  K

Anexo à carta dirigida a Fliess,
1° de Janeiro de 1896

 

Freud traça a comparação entre histeria, neurose obsessiva e uma forma de paranoia. São desvios patológicos de estados psíquicos afetivos normais: do conflito (histeria), da recriminação (neurose obsessiva), da ofensa (paranoia), do luto (amência alucinatória aguda). Para que ocorra o desencadeamento dessas situações,  é necessário  a natureza sexual. Portanto,  se a experiência sexual significativa não  ocorrer no período anterior à maturidade  sexual, as neuroses de defesa não  ocorrerão. A estimulação sexual prematura  conduz ao desprazer, ocasiona o recalque  e a vergonha. Para Freud, haveria uma fonte independente liberadora de desprazer na vida sexual, causa de perturbação no psíquico. 

 

A neurose obsessiva

 

A vivência primária ocasionou o prazer, mais tarde surgirá a recriminação consciente  e o desprazer. Surge o recalcamento, a lembrança prazerosa  estaria ligada ao desprazer. Desprazer- prazer- recalcamento. Haverá  uma luta defensiva do Eu contra a representação obsessiva, produzindo outros sintomas, como a compulsão  para a ruminação  de ideias,  compulsão a acumular  objetos. Agem como substitutos e defesa do  Eu contra a representação obsessiva. Os neuróticos obsessivos  sofrem de recriminação ou sintomas  relacionados à tensão sexual. 

 

Paranoia

 

A vivência primária segue o padrão da neurose obsessiva, o relaxamento ocorrerá após a lembrança prazerosa se transformar em desprazer. Não há recriminação, o desprazer é atribuído a alguém do mundo exterior. Surge a desconfiança  como sintoma. O afeto recalcado retorna como alucinação auditiva: são as vozes que causam a recriminação como sintoma. A recusa é o elemento determinante da paranoia, as vozes são externas, pertencem ao outro. 

 

Histeria

 

Segundo  Freud, a passividade natural da mulher explica sua escolha: a histeria. Ocorre uma vivência primária de desprazer, de natureza passiva. O primeiro estágio da histeria é a manifestação de susto com lacuna psíquica, há um escoamento da excitação elevada. A formação de sintomas de defesa e o recalcamento ocorrerão mais tarde, com irrupção de ataques. Há uma lacuna no psíquico. 

Aula 2

Foto / Stefano Pollio

Foto / Stefano Pollio

Sobre o sentido antitético
das palavras primitivas
1910

 

Os intérpretes de sonhos na Antiguidade acreditavam que certos indícios no sonho poderiam significar seus opostos. Modernos pesquisadores reconhecem essa possibilidade. 

 

Freud acreditava na tendência do sonho em prescindir da negação, expressar elementos opostos por intermédio de recursos figurativos. Utilizou o trabalho do linguista K. Abel, publicado em 1884. O linguista nos apresenta a antiguidade da língua egípcia onde encontramos um considerável número de palavras com dois significados; um oposto ao outro.

 

O ser humano obteve seus conceitos mais simples por meio da oposição ao seu oposto ao distinguir os dois lados da antítese. As palavras podem inverter igualmente som e sentido no idioma egípcio, fato muito importante na comparação com o trabalho do sonho.

 

Inversão fonética

 

Abel tenta explicar o fenômeno da inversão fonética por meio de uma duplicação ou reduplicação das raízes. Freud nos lembra de que as crianças brincam com a inversão fonética das palavras. E de como o sonho se utiliza da inversão de seu material figurativo (não são as letras, são as imagens que apresentam a série invertida).

 

Por meio da concordância  observada entre a peculiaridade do trabalho do sonho e a prática descoberta por Abel nas línguas mais antigas, Freud confirma a concepção sobre o caráter regressivo, arcaico, da expressão dos pensamentos no sonho.

 

Seria possível  aos psiquiatras entenderem melhor a linguagem do sonho e sua tradução se soubessem mais sobre o desenvolvimento da linguagem, complementa Freud.

Aula 3

 

Sobre tipos neuróticos
de adoecimento

1912

 

Questões sobre os fatores  desencadeadores do adoecimento  neurótico. Os destinos da libido são fundamentais para a saúde ou para a doença  nervosa.

 

Motivos para o adoecimento neurótico

 

a) Fator externo, descrito como impedimento. A possibilidade da doença começa com a abstinência. O impedimento represa a libido. O indivíduo precisará encontrar caminhos para se livrar da tensão psíquica. 

 

b) O indivíduo adoece ao tentar  se adequar à  realidade é cumprir sua exigência real, irá se deparar com dificuldades internas  insuperáveis. 

 

c) Adoecimento por inibição de desenvolvimento. A libido não  abandona as fixações  infantis. 

 

d) A quantidade de libido na vida anímica do indivíduo sofre uma intensificação suficiente para estabelecer a neurose.

 

A importância da quantidade de libido
no surgimento da neurose  se relaciona
com duas teses

 

1)  As neuroses surgem do conflito entre o Eu e a libido. 

 

2) Não existe distinção qualitativa entre as condições da saúde e as da neurose. 

Luto e Melancolia Foto.jpg

Aula 4

 

 Comunicação de um caso de paranoia
que contradiz a teoria psicanalítica
1915

 

Por solicitação de um advogado, Freud atende a moça que solicitou proteção ao advogado, contra as perseguições de um homem com o qual manteve encontros.

 

Na literatura psicanalítica observamos que o paranoico luta contra tendências homossexuais relacionadas à escolha narcísica de objeto. O perseguidor seria alguém amado no presente, ou no passado.

 

Ao relatar ao psicanalista, a paciente informa existir uma maternal senhora de cabelos brancos em seu local de trabalho. Explicita a relação entre a senhora e o jovem perseguidor. Um pensamento delirante.

 

O amor pela mãe se torna

o representante da "consciência moral"

 

Na paciente atendida por Freud, a filha, ela deverá buscar a liberação, a permissão para o gozo sexual. Não conseguindo, será vítima de uma neurose e das ligações infantis com a imagem primordial da mãe.

 

A suposição de uma relação amorosa entre o homem amado e a senhora de cabelos brancos, nos remete à observação da relação amorosa dos pais. Seriam as fantasias primordiais. O amado representa o pai, a filha se coloca no lugar da mãe.

 

Inércia psíquica como condição
fundamental da neurose

Carl Jung

 

Expressão de “enodamentos de pulsões” detém a continuidade do desenvolvimento dos componentes pulsionais. Na psicanálise, “a inércia psíquica” representaria a fixação.

Aula 5

 

Tentativa de esclarecer a natureza
da melancolia, comparando-a com
o afeto do luto

 

O luto é uma reação à perda de uma pessoa ou algo que esteja nesse lugar. Considerado um comportamento normal, será superado após algum tempo. A melancolia apresenta os mesmos traços do luto: desinteresse pelo mundo externo e perda da capacidade de amar. Na melancolia surge a perturbação do sentimento de autoestima. O trabalho do luto consiste em retirar a libido investida no objeto já não mais existente. Processo doloroso, lento, é esperado a vitória do princípio da realidade. O Eu se torna novamente livre e desimpedido. Na melancolia a perda é de natureza idealizada, o melancólico não consegue discernir o que foi perdido. No luto, o mundo se tornou pobre e vazio, na melancolia, o próprio Eu.

 

O doente se humilha, se recrimina, é um ser indigno em sua opinião.  Não encontramos relação entre a medida de autodegradação e sua justificativa real. A conduta do melancólico não se relaciona com o sentimento de culpa. Ocorre uma perda no objeto e uma perda do seu Eu. As reclamações e autoacusações do melancólico se dirigem para um objeto de amor, a partir do qual se voltam para o próprio Eu. A sombra do objeto caiu sobre o Eu. Ocorre um conflito entre o Eu e o objeto, uma cisão entre a crítica do Eu e o Eu modificado pela identificação com o objeto.

 

Para Freud, a predisposição  à melancolia poderia residir no predomínio de um tipo de escolha narcísica do objeto. A melancolia toma para si parte das características do luto e parte do processo de regressão - da escolha narcísica.

 

Ambivalência de sentimentos

em relação ao objeto (amor-ódio)

 

Na melancolia o sujeito se vinga do objeto originário por meio das tendências sádicas. Duplo sentido: o investimento amoroso regride até à identificação, um deslocamento ao sadismo. Ao atacar a si mesmo, o melancólico ataca o objeto com o qual se identificou. A melancolia  apresenta a tendência de se transformar no estado de mania. A mania seria o triunfo sobre o Eu, descarga de afeto prazeroso, suspensão do recalcamento de energia. O luto leva o Eu a renuncia do objeto, declara-o morto e reinveste a energia no mundo exterior. Na melancolia ocorre a perda do objeto, ambivalência e regressão da libido para o Eu. A mola do conflito se situa na regressão da libido ao narcisismo.

 

Quanto mais perfeito por fora,
mais demônios tem por dentro.

 

Sigmund Freud

 

Aula 6

 

Uma neurose  demoníaca
no século XVII
1923

 

O conselheiro R. Payer-Thurn, diretor da antiga Biblioteca Imperial de Viena, permitiu a Freud tomar conhecimento de uma dessas neuroses demoníacas. As possessões correspondem às nossas neuroses, consideramos demônios nossos desejos perversos, derivados de moções recalcadas, no conceito de Freud.

 

I)

 

A História do pintor Christoph Haitzmann. 

 

Um manuscrito escrito em duas partes, foi analisado por Freud. O primeiro consignado pelo monge escriba (em latim), o segundo, fragmentos do diário do pintor (em alemão). Acometido por convulsões, o pintor confessa ter cedido ao Diabo por nove vezes. De acordo com sua história, houve dois pactos: um assinado com tinta, outro com sangue.

 

II)

 

O motivo do pacto com o Diabo.

 

Para o pintor qual o motivo do pacto?

Ele desejava servir ao Diabo.

A morte do pai causou uma depressão melancólica, motivo para assinar o pacto.

O Diabo representaria o pai morto amado, o que o levou a colocar o Demônio como substituto do pai querido?

 

III)

 

O Diabo como substituto do pai.

 

O Diabo  surge como uma figura distinta, em seguida com garras e chifres, um pênis enorme e seios. O Demônio é a contraparte de Deus e representa uma figura única. Podemos relacionar ao Complexo de Édipo, amor e ódio pelo pai. Medo da castração e o desejo de castrar esse pai poderoso. Os seios podem representar a mãe, a figura feminina protetora.

 

IV)

 

Os dois pactos. 

 

O pintor inventou um pacto anterior para afirmar sua posição junto aos religiosos. Ambos os pactos, a tinta e a sangue, estão preservados no arquivo de Mariazell.

 

V)

 

O curso posterior da neurose.

 

O pintor entrou para a Ordem dos Monges,
após ser açoitado. 

 

Segundo Freud, a neurose do pintor parece uma bufonaria que encobriria a luta da vida. Com a morte do pai, ele não conseguiu dar continuidade ao trabalho. Após enfrentar a melancolia e o Demônio, teve de enfrentar a luta entre o prazer  libidinal e a renúncia. O pintor não distingue entre o Espírito Maligno e os Poderes Divinos, para ele são aparições do Demônio.