Brasil Editor
Contemporâneo
Freud e
Machado de Assis
Uma interseção
entre
psicanálise e literatura
de Luiz Alberto Pinheiro de Freitas
RESUMO DAS AULAS
regpina@gmail.com
0.1 Introdução
Desenvolvimento da interseção entre psicanálise e literatura, por meio da psicanálise de Sigmund Freud e a obra de Machado de Assis.
0.2 Psicanálise em extensão
A interpretação na literatura. Em extensão, a interpretação proporciona várias formas de leitura, independente dos seus autores.
2.1 Uma prática social teorizada
A psicanálise leva em conta a singularidade do indivíduo, as fantasias relacionadas à linguagem: trabalha com a interpretação. A sublimação é um destino da pulsão para a vida em grupo: "A civilização é construída sobre uma renúncia à pulsão..." (Freud em O mal estar na Civilização - 1929/1930).
2.2 A arte como sublimação
O ser humano encontra substitutivos para os desejos insatisfeitos. Uma das formas é por meio da sublimação. Freud apresentou três formas de sublimação: arte, ciência e religião.
2.3 0 discurso do personagem
Em um dos livros, Peter Gay afirma que Freud, conhecedor da literatura, utilizou Sófocles, Goethe, Shakespeare, Hamlet, Macbeth, Homero... Freud escreveu três obras de extrema importância: Leonardo da Vinci, Dostoiévski e Michelangelo.
2.4 A identificação com o personagem
Importância do conceito de identificação. É uma das formas que o ser humano encontra ao liberar suas emoções por meio da obra teatral e literária, identificando-se com o personagem. Este processo significa para o adulto o que o brincar representa para a criança, uma forma de expressar suas emoções. Quanto maior o conflito, a identificação será mais forte, provocando uma catarse e a liberação do reprimido.
2.5 A centralidade da linguagem
"A língua, a palavra, são quase tudo na vida do homem", afirma Baktin (1959-1961). A linguagem possibilita a interpretação, abre um espaço e convida a interseção entre literatura e psicanálise. A psicanálise descobre na literatura a incompletude do ser humano, a impossibilidade da relação entre a linguagem e a realidade, aponta a importância das fantasias, da poesia e romances, objetos substitutivos associados ao desejo.
2.6 A interpretação do texto
O autor ao criar os personagens está representando um contexto cultural: fato e ficção. Freud percebeu a importância do mito diante da cultura, alguns personagens seriam universais, leituras e interpretações dirigidas às peças literárias que tratam de temas permanentes ao ser humano, como Édipo. Abordaremos a interseção entre literatura e psicanálise ao observarmos a obra de Machado de Assis, as várias formas do indivíduo no mundo. Machado possibilita a identificação inconsciente do leitor com o personagem. A obra literária é um ato narcísico e um ato de generosidade com o leitor.
0.3 A literatura machadiana e o Realismo cético
A obra de Machado de Assis pode ser dividida em duas partes: o romantismo da época e a fase do realismo cético, onde predomina a análise psicológica dos personagens.
Machado foi um autor interessado nas paixões, nos conflitos internos dos indivíduos e no aspecto trágico das relações humanas. Seus romances mostram as ambiguidades, a ambivalência inerente aos seres humanos: ciúme, incesto, morte...
Romances da primeira fase: Ressurreição, A mão e a luva, Helena, Iaiá Garcia e Casa Velha, cuja temática seria a ascensão social.
Romances da segunda fase:
Brás Cubas (1881)
Quincas Borba (1891)
Dom Casmurro (1899)
Esaú e Jacó (1904)
Memorial de Aires (1908)
Machado é "um autor que em 1880 está dizendo coisas que Freud diria 25 anos depois". Roberto Schwartz (1982).
0.4 “As mulheres pecadoras”
de Machado de Assis
Machado de Assis escreveu
sobre mulheres, para as mulheres.
As heroínas estão relacionadas
ao pecado: Virgilia, Marcela, Sofia e Capitolina.
Na época de Machado, o casamento seria
o maior desejo de uma mulher.
Freud argumenta que o casamento
pode ser uma forma de revelar
quadros neuróticos e
não uma solução para as angústias femininas.
4.1 Virgilia, ou o grão pecado da juventude
O adultério feminino, no século XIX, era considerado mais grave do que o realizado por
homens. Às adúlteras, restava fugir ou morrer. Casada com Lobo Neves, Virgilia mantinha um
romance com Brás Cubas. Machado nunca leu Freud. No entanto, assim como o criador da psicanálise, apresentava a infidelidade conjugal como cura para as doenças nervosas provenientes do casamento.
Freud cita o interesse dos homens por mulheres comprometidas, atitude relacionada ao Complexo de Édipo e a necessidade humana de poder. Haverá sempre um terceiro excluído. Lobo Neves não reage à traição da mulher, não quer ser ridicularizado publicamente.
4.2 Marcela, uma dama espanhola
Uma paixão adolescente de Brás Cubas, Marcela, cortesã de luxo, era mantida
financeiramente pelo pai de Brás Cubas. O pai envia Brás Cubas para Coimbra e coloca um ponto final no romance e nas despesas. Freud considera a prostituição uma forma de o homem lidar com suas fantasias edípicas: "Um contraste agudo entre a mãe e a prostituta".
4.3 Sofia, metade gente, metade cobra
Sofia configura o modelo da histérica, definido por Freud, a Medusa, uma mulher representante da dissimulação feminina, a mulher perigosa. Explorado financeiramente pelo marido da Sofia, Rubião se torna objeto neste jogo de sedução e seu final será a loucura.
4.4 Capitolina, a que ama no lugar do outro
Com o romance Ressurreição, Machado preparou a vinda de Bentinho de forma mais densa e ambígua. Criou no leitor a dúvida, teria Capitu cometido traição? Bentinho não teve figuras masculinas, cercado por mulheres fortes: a mãe e Capitu. O desejo de Bentinho era o desejo das duas; Bentinho não se constitui como sujeito da sua história.
Freud no artigo de 1922, "Alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranoia e no homossexualismo", cita três graus de ciúme: o competitivo ou normal, o projetado e o delirante. Até que ponto Bentinho estaria projetando uma atração homossexual por Escobar, seu amigo, em Capitu? A traidora seria ela e ele a vítima.
Machado nos mostra os conflitos internos de Bentinho, sua incapacidade de assumir o lugar de homem adulto e de pai, ao renegar o filho. Machado desloca o foco do romance de Capitu para Bentinho. Mantém a dúvida no leitor, o importante não é a traição, mas os aspectos psicológicos dos personagens. Ao leitor, as conclusões.
4.5 O Contraponto
A Santa Carmo e a Viúva Fidélia
O ultimo romance de Machado de Assis - Memorial de Aires (1908) - foi escrito após a morte de Carolina Augusta Xavier de Novais Machado de Assis. Referenciado na obra, o personagem conselheiro José da Costa Marcondes Aires é citado em outro livro, Esaú e Jacó. Após a morte de Carolina, Machado, solitário, procurou manter presente os objetos que pertenceram à esposa. Relíquias de casa velha (1906) foi o primeiro livro escrito após a morte de Carolina. Memorial de Aires apresenta personagens idealizados. Após dois anos de luto, Fidélia encontra um novo amor na figura de Tristão, romance que trata da elaboração do luto e a idealização da mulher.
4.6 Conclusão
Machado pode ser colocado na lista dos grandes escritores da literatura universal: mantém o leitor ligado aos personagens. Cada personagem representa uma história pessoal. Machado escreveu sobre as mulheres, traição e anseios. De acordo com Freud, ligado aos desejos edípicos. O tempo mostrará que as mulheres do Bruxo do Cosme Velho farão parte da temporalidade.