Proposta

 

Brasil Editor Contemporâneo
propõe um painel
dedicado à literatura e à arte,
indispensável moldura cultural.

 

Escritores, poetas, psicólogos
e artistas reunidos em torno
do instigante desafio.

 

Convidamos você para
compartilhar nossa
surpreendente aventura.

 

Os Editores
 

SNS

 

Psicanálise

 

Regina Pina

 

Psicanalista Regina Pina 
 

Sabina Spielrein

 

Na cidade russa de Rostock,
em 25 de outubro de 1885,
nasce Sabina Spielrein,
filha de uma família de mercadores judeus.

 

Ao desenvolver transtornos neuróticos na puberdade, Sabina é internada no Hospital  Burgholzli, Suíça, em 1904. Diagnosticada como histérica, tornar-se-ia psiquiatra e psicanalista renomada. Seu trabalho dedicado às crianças é notável.

 

Sabina criou um conceito que permitiria Freud elaborar a pulsão de morte. Para Sabina era a pulsão sádica e destrutiva existente no ser humano. Contribuiu com Bleuer para o entendimento de esquizofrenia, assim como realizou descobertas importantes no campo da psicologia infantil.

 

Carl Gustav Jung foi seu médico entre 1904 e 1911. Jung acabou por desenvolver uma relação íntima com a paciente. Sabina se tratou com Freud e após demonstrar progressos, tornou-se assistente de Jung. Após deixar o hospital, Sabina estudou medicina. Em 1911, terminou a graduação com a tese sobre esquizofrenia. No mesmo ano foi aceita como membro da Sociedade de Psicanálise de Viena.

 

Acompanhada do marido, retornou à União Soviética em 1923, época da revolução socialista. Difundiu a psicanálise  com apoio de Trotsky, que defendia o desenvolvimento das teorias psicanalíticas. Com Vera Schmidt, iniciou um trabalho inédito com crianças. A importância do relacionamento entre crianças e educadores. O sistema tradicional de punições corporais fora abolido. Um programa inovador, com noções de sexualidade e afetividade: O Berçário Branco, com peças e paredes brancas. Após três anos, seria fechado sob a falsa alegação de atos sexuais com crianças. Consta que o filho de Stalin estudava na instituição com nome fictício. Sabina proferiu cursos, seminários e foi indicada para a cátedra da primeira  Universidade  de  Moscou. Influenciou pensadores soviéticos como Vigotski, Leontiev e Luria.

 

Sabina tratou de adultos e crianças na policlínica psiquiátrica de Rostov. No Encontro de Psiquiatras e Neuropatologistas do Cáucaso Setentrional, em 1929, afirmou: "a doutrina de Freud é mais ampla que a doutrina de todos seus inimigos e seguidores". A Sociedade foi dissolvida em 1929, com Trotsky exilado. O stalinismo proibiu atividades consideradas burguesas. Em 1936, a psicanálise foi oficialmente proibida e Sabina impedida de deixar o país. Passou a dar aulas de música a crianças. Seus irmãos foram deportados para os Gulags, em 1937. Sabina e suas filhas foram assassinadas pelos nazistas, em 1942.

Freud e a metáfora do espelho

 

"... o psicanalista, tal qual um espelho,
somente deve refletir
aquilo que o paciente lhe mostrar."

Machado se preocupava com a saúde da alma.

Freud utilizou a literatura na construção
da teoria psicanalítica.
Édipo, Hamlet, Macbeth são alguns exemplos.

 

A mitologia grega nos
trouxe a imagem do espelho por
meio do mito de Narciso.
Tirésias, sábio cego,
previu que Narciso viveria muitos anos
se ele não se conhecesse.

 

Na Idade Média, era o espelho que permitia o indivíduo chegar até Deus. Com William Shakespeare (1564-1616) e Luis de Camões (1524-1580), o espelho passa a ser visto como objeto especular. Freud desenvolveu o conceito psicanalítico de narcisismo, fundamental para o desenvolvimento psíquico do indivíduo, enquanto Lacan nos traz a fase do "estágio do espelho": a criança se identifica com sua imagem no espelho. Narciso é retratado por Caravaggio (óleo sobre tela), uma pintura incomum se comparada aos quadros de outros artistas sobre o mesmo tema.

 

Atualmente o espelho é associado à vaidade. Na Antiguidade, seu sentido era o oposto. Sócrates dizia que a função do espelho era a correção moral por meio do próprio reflexo. Narciso se apegou à vaidade. Enclausurado em sua aparência, apaixonou-se por sua imagem. No conto O Espelho, de Machado de Assis, o narrador cita que existem duas almas: uma teria o olhar voltado para a realidade, outra para o interior do indivíduo. Elas se complementam.

 

No conto, a tia orgulhosa do sobrinho, coloca um espelho em seu quarto. A partir desse momento sua personalidade se modifica. Como Narciso, o personagem se apaixona pela imagem e perde o seu Eu verdadeiro. Só enxergamos o que podemos e o que nos interessa. O Espelho reflete a alma do indivíduo.
No passado costumava-se cobrir os espelhos quando alguém morria; uma forma de proteção. A alma do morto poderia ficar aprisionada no espelho. O espelho no conto de Machado tem dupla função: dá vida ao personagem e rouba a identidade do homem.

 

Nessa busca o ser humano pode
se perder de si mesmo

 

O personagem de Guimarães Rosa, em seu conto, demonstra repulsa, medo do espelho. Superstições relacionadas à análise e possibilidade da perda do eu, o espelho representa o indivíduo em busca de respostas para as questões e conflitos inerentes ao seu interior.

 

Guimarães Rosa utiliza o espelho como instrumento de busca da personalidade, Machado nos apresenta um personagem que perdeu sua personalidade e adquiriu outra criada na sociedade. 

Narciso, Machado e Guimarães Rosa nos mostram que não basta ter consciência da identidade, de quem somos, precisamos do olhar do outro como referência de que existimos e pertencemos ao mundo. Todos nós temos um pouco de Narciso, que precisou da sua própria imagem refletida na água. Jacobina, de Machado, necessitava dos elogios da tia. O narrador em Guimarães Rosa temia o julgamento dos outros, para ele representado no reflexo do espelho.

 

Quais os motivos levam o ser humano
a temer o espelho,
associá-lo às bruxarias,
sete anos de azar, cobri-los com lençóis
e outras práticas que o protejam.

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Foto Patrick Tomasso

Autores influenciados por escritores russos

 

Virgínia Woolf era admiradora de Tolstói. No ensaio O ponto de vista russo cita o escritor como "o maior de todos os romancistas". Desenvolve seus contos de dentro para fora, busca o interior do ser humano, na opinião de Virgínia. Mrs. Dalloway apresenta influências de Anna karienina e Guerra e Paz, os famosos romances de Tolstói.

Era grande admiradora dos romances de Dostoiévski. "São turbilhões fervilhantes, tempestades de areia giratórias, trombas de água que assobiam e fervilham e nos sugam para dentro. Elas são compostas de pura e totalmente da essência da alma. Contra nossas vontades, somos atraídos, rodopiados, cegados, sufocados e ao mesmo tempo, preenchidos com um arrebatamento vertiginoso".

 

Orhan Pamuk foi influenciado por Dostoiévski. Em Meu nome é vermelho, Pamuk descreve Istambul que lembra São Petersburgo do século XIX. Cita sua admiração por Memórias do subsolo.

 

Gabriel García Márquez e Haruki Murakami admiravam Dostoiévski. Provavelmente, o único escritor que não reconheceu sua grandeza foi Vladimir Nabokov, autor de Lolita.

 

James Joyce disse a respeito de Dostoiévski: ..."ele é o homem que, mais do que qualquer outro, criou a prosa moderna e a intensificou até sua forma atual".

 

Kafka sentia uma forte conexão com Dostoiévski, leu trechos do livro O Adolescente para o editor Max Brod. Mais tarde, o quinto capítulo do O Adolescente influenciaria o estilo de Kafka.

 

Charles Dickens também foi influenciado por Dostoiévski na sua concepção de ver o mundo.

 

Sigmund Freud considerava Os Irmãos Karamazov uma obra-prima. Um dos melhores romances. Baseado nesta obra, Freud escreveu um estudo: Dostoiévski e o parricídio.

 

Pablo Neruda apreciava a poesia de Maiakovski, linguagem crua, a realidade social da União Soviética. As palavras tornam-se armas poderosas em suas mãos, segundo seu admirador.

 

Faulkner ao elogiar Tchekhov dizia ser mais difícil escrever um conto do que um romance. Uma Rosa para Emily era um tributo ao conto a Dama do Cachorrinho.

 

Hemingway admirava Turguêniev. Cita o autor em seu romance Paris é uma festa. Não poupava elogios aos contos Memórias de um caçador, lançado em 1852.

Foto Patrick Tomasso

Os caminhos entre
Proust e Freud

 

Dois homens cultos, leitores de clássicos,
admiradores das artes,

contemporâneos.
Viveram na Europa conturbada,
em momento de mudanças e descobertas.

 

Estudaram de forma diferente “o grande mistério que habita o ser humano”. Para Freud, o inconsciente, para Proust, o lago desconhecido. Freud nasceu quinze anos antes de Proust e viveria dezessete anos após a morte do escritor. Contemporâneos, ambos não se conheceram e não leram a obra, embora o pai de Proust tenha assistido às aulas de Charcot, no Hospital Salpêtrière, assim como Freud.

 

Freud interessou-se pelos sonhos,
Proust pelo sono.

 

“A censura é diminuída e contornada quando a mente adormece”, disse Goya. "O sono da razão produz monstros". Proust raramente saía da cama, enviava bilhetes para a mãe por baixo da porta. Quando perdeu a mãe, seguiu na cama à espera de um bilhete que jamais viria. Como Freud, considerava a paixão uma doença, entendiam que nos perdemos no outro, no objeto da paixão. Os sonhos estão presentes nos personagens da obra de Proust: Em busca do tempo perdido. Significados que remetem ao inconsciente. “A verdadeira realidade psíquica é o inconsciente”, diz Proust, enquanto Freud afirma “O que dirige nossa vida é o inconsciente”.

 

Proust  reconhece o estado de escuridão que existe no interior do ser humano, o desconhecido que habita nossas profundezas, ele surge por meio da memória involuntária, a verdadeira memória que irrompe e sobre a qual não temos controle. Freud trabalhou os chistes, os atos falhos, como manifestações do inconsciente.

 

Proust tem interesse pelos conteúdos esquecidos, inconscientes, involuntários, o material que o ser humano tenta calar. Freud e Proust afirmam que o segredo está no centro da vida e do pensamento. “Todo neurótico tem um segredo”, dizia Freud. Ambos tinham paixão pela arte e a literatura:  o Moisés de Michelangelo, a Vista de Delft, quadro de Johannes Vermeer.

 

Freud considerava a literatura antecedente à ciência e à psicanálise, no conhecimento do homem e do mundo. Os poetas chegaram antes de mim, afirmava Freud. Descobrem com sua arte a noite escura, o vazio existente no interior do ser humano.

 

Proust - Descobrir a ternura, a paixão, a coragem e a serenidade que compõem o universo humano, único em cada individuo, 

 

Demos o nome de psicanálise ao
trabalho pelo qual trazemos
à consciência do doente
o psíquico que há recalcado nele.

 

Sigmund Freud

 

 

Nós poderíamos ser muito
melhores se não
quiséssemos ser tão bons.

 

O caráter de um homem é
formado pelas pessoas
que escolheu para conviver.

 

Sigmund Freud

 

Mário Quintana

 

Mário Quintana
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Poeminha do Contra

 

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!

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O Tempo

(Seiscentos e Sessenta e Seis)
 - Título original da v
ersão original -

 

A vida é uns deveres que nós
trouxemos para fazer em casa.

 

Quando se vê, já são 6 horas: há
tempo...
Quando se vê, já é 6ª feira...
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser
reprovado...
E se me dessem - um dia - uma
outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente...

E iria jogando pelo caminho a casca
dourada e inútil das horas.

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 A vida é um incêndio:
nela dançamos, salamandras mágicas.
Que importa restarem cinzas se
a chama foi bela e alta!

 

 

Não era mais uma menina com um livro:
era uma mulher com seu amante.

 

Clarice Lispector

 

 

Subnutrido de beleza,
meu cachorro-poema vai farejando
poesia em tudo, pois nunca
se sabe quanto tesouro andará
desperdiçado por aí...
quanto filhotinho de estrela
atirado no lixo!

 

Mário Quintana

 

O futuro das cidades

 

O Renascimento foi um período profícuo para se pensar sobre as cidades. A Europa castigada por surtos de peste bubônica viu surgir entre filósofos, artistas e cientistas, idealizações urbanísticas utópicas. Por volta de 1486, Leonardo da Vinci esboçou o projeto de uma cidade às margens do rio Fico para facilitar o transporte de bens e abrigar espaços urbanos limpos. Leonardo Pensou uma forma de conter inundações, garantir a irrigação e a navegação. Conhecedor das propriedades da água e do ciclo hidrológico, Leonardo projetou a cidade em três níveis. O nível da rua para cavalos e charretes, o nível superior para pedestres e o subterrâneo para abrigar uma rede de canais conectados aos porões das edificações. Uma idealização que inspiraria intervenções em outras cidades.

 

Voltaire retornou de Londres no final do século XVIII, e impressionado com as condições de saneamento, pavimentação e iluminação da capital britânica, o pensador iluminista clama por avanços na capital francesa. A passagem se encontra no livro Planning Paris Before Haussmann, do historiador Nicholas Papayanis. O planejamento urbano no século XVIII, escreveu o autor, objetivava promover a higiene e a circulação, evitar doenças transmitidas nos ares e nos vapores emanados de matérias orgânicas em putrefação.

 

Nova York foi pioneira ao iniciar na década de 1730 transformações urbanas visando à saúde dos habitantes: deslocou matadouros para fora dos limites da cidade. Os negócios se restabeleceram perto do Lago Coletor, fonte de água que abastecia a cidade e logo se tornou contaminada, contribuindo para a epidemia de  cólera em 1833.

 

Georges-Éugene Haussmann conduziu as reformas em Paris a pedido de Napoleão III. Surgiu uma nova cidade em meados do século XIX. O prefeito construiu Avenidas abertas, largas, mudanças definitivas para a cidade ser o que é hoje. Essas reformas forçaram milhares de desapropriações, e tornou Haussmann uma figura controversa. Em homenagem, inaugurou-se o Boulevard Haussmann, uma das maravilhas de Paris: Galerias Lafayette, lojas de marcas famosas, dezenas de cafés e hotéis.

 

Brasil As notícias sobre as reformas urbanas na Europa aportaram no Brasil. Nos anos 1860 o Rio de Janeiro implantou melhorias nas redes de esgoto e transporte público de forma desigual, acarretando a indignação dos moradores do subúrbio. As medidas foram conduzidas pelo prefeito Pereira Passos e por Osvaldo Cruz, médico higienista. Os cortiços foram eliminados, os lotes da Zona Sul foram comprados pelos mais abastados, e aos desassistidos os assentamentos nas encostas dos morros.

 

Século XXI Epidemias  moldaram as cidades, estimularam a instalação de serviços e infraestruturas que elevaram o padrão de vida urbana de forma desigual, relegando parte da população a viver em condições não tão distantes das vividas no século XIX em Paris, Londres ou Rio de Janeiro. E se a desigualdade pandêmica continua, precisamos encontrar novas soluções para velhos problemas.

 

Há pessoas que choram por saber
que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber
que os espinhos têm rosas!

 

Machado de Assis

 

 

A loucura é uma ilha perdida
no oceano da razão.

 

Machado de Assis

 

 

Quando eu vejo que eu estou me
levando excessivamente a sério,
o palhaço que eu tenho dentro de mim
dá uma cambalhota.

 

Ariano Suassuna

 

 

A guerra é um massacre entre
pessoas que não se conhecem para
proveito de pessoas que se
conhecem mas não se massacram.

 

Paul Valéry

 

 

           E por vezes as noites
           duram meses

 

E por vezes as noites duram meses
E por vezes  os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes

 

encontramos de nós em poucos meses 

o que a noite nos fez em muitos anos

E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

 

ao tomarmos o gosto aos oceanos

só o sarro das noites não dos meses

lá no fundo dos copos encontramos

 

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos. 

 

David Mourão-Ferreira,
​​​​​​um poeta português

 

Escreveram durante
as pandemias

 

William Shakespeare


Em Londres trinta pessoas morreram em 1606, em apenas uma semana. Surgira a epidemia. As autoridades fecharam vários estabelecimentos, e os teatros não foram exceção. Shakespeare foi obrigado a fechar o seu teatro, The Globe. Sem o teatro, o dramaturgo e poeta abraçou a literatura. De acordo com James Shapiro, Shakespeare escreveu três de suas mais famosas tragédias neste período de isolamento: Rei Lear, Macbeth, Antônio e Cleópatra.

 

Alexander Pushkin

 

Um surto de cólera assolou Boldino em 1830 e confinou o poeta russo na região por três meses. Além de  aperfeiçoar os escritos, Pushkin terminou seu romance Eugene Onegin, considerado obra-prima, e os contos Belkin Tales. Desenvolveu ainda quatro dramas em versos e mais de 30 poemas.

 

Isaac Newton

 

Conhecido como um dos maiores físicos da humanidade, Newton enfrentou um período de isolamento devido ao surto da peste negra. Foi obrigado a retornar para sua casa em Lincolnshire, após a faculdade fechar as portas. A partir deste momento Newton aprofundou seus estudos. Desenvolveu as teorias sobre cálculo, movimento e óptica e as leis da gravidade. "Naqueles dias eu estava no auge da  minha idade em termos de invenção, mente, matemática e filosofia, mais do que qualquer outro momento desde então", disse Newton ao francês Pierre des Maizeaux.

 

Boccaccio

 

Giovanni Boccaccio escreveu Il Decameron durante um período de isolamento devido ao surto da Peste Negra na Itália. Importante por mostrar a realidade vivida na Europa no século XIV, inclusive durante a pandemia, a obra do poeta italiano foi parar nas telas de cinema em 1971, sob a direção de Pier Paolo Pasolini.  

 

Thomas Nashe

 

Thomas ficou recluso no interior da Inglaterra durante a peste bubônica, peste transmitida por pulgas de ratos. O escritor inglês escreveu a peça Summer's Last Will and Testament. Na peça encenada em 1600, ele conta suas vivências durante a quarentena.

 

Edward  Münch 

 

Vítima da gripe espanhola em 1919, o pintor norueguês Münch sobreviveu. Decidiu então fazer um autorretrato com o título Autorretrato com a gripe espanhola, onde aparece com cabelos grisalhos e ralos, pele amarelada e cobertores em seu colo.

 

Thomas Mann

 

Autor da Montanha Mágica (1924), livro onde retrata o mal do século: a tuberculose. Sua esposa esteve internada no sanatório em Davos, Suíça, para tratamento da doença. Essa foi a motivação de Thomas para escrever o livro. Morte em Veneza (1912) trata da epidemia de cólera na cidade italiana. O fato foi ocultado pelas autoridades para não prejudicar o turismo.

 

Albert Camus

 

Uma das leituras mais consagradas sobre este assunto é o romance A Peste de Albert Camus (1947). A cidade de Oran, na Argélia, é invadida por ratos doentes e atordoados. Os moradores passam a manifestar sintomas, a doença é identificada como peste, mas os cidadãos não encaram o fato com seriedade. O terror e a violência logo se fazem presentes. "Já não havia então destinos individuais, mas uma história coletiva que era a peste e sentimentos partilhados por todos". 

Robert Walser

O tumultuado escritor
Robert Walser

 

De língua alemã, Robert Walser,
escritor suíço,
nasceu em 1878.
Entre outros, admirado por
Kafka, Musil, Sebald, Coetzee.
Autor de nove romances,
além de mil contos.
Sua obra foi traduzida em mais
de trinta idiomas,
incluindo mandarim, japonês
e português do Brasil.

 

Seu pai era dono de uma loja de brinquedos e artigos de papelaria. Sua mãe sofria de depressão, e após algum tempo internada, cometeria suicídio em 1894. O turbulento ambiente familiar era agravado por sua mãe, mulher de saúde debilitada. 

 

Aos 14 anos, o futuro escritor abandona os estudos e emprega-se no Banco Cantonal de Berna. No ano da morte de sua mãe, 1894, resolve seguir a carreira de ator. Após o fracasso, após alguns empregos, decide escrever seu primeiro poema, em 1897, Zukunft! (Futuro). Mudou de profissão por nove vezes, de contabilista a caixeiro, trocava de cidade e de emprego constantemente. Alguns poemas foram publicados sem referência ao autor, no jornal diário Der Bund, suplemento de domingo. 

 

Após o serviço militar, com cinco anos de atraso, trabalhará como secretário e contabilista do técnico de máquinas Carl Dubler-GräBle. Carl patenteara três inventos, experiência que será utilizada por Walser no romance de 1908, O Ajudante.

 

Em 1905, frequenta um curso de mordomos e desempenha este ofício no Palácio Dambrau. Este episódio surge em outra obra, Jakob von Gunten.

 

Perdas irreparáveis

 

Walser regressa a Berlim e passa a frequentar um círculo de autores literários, editores e pessoas do teatro, apresentadas por seu irmão  Karl, pintor, gráfico e cenógrafo. Em Berlim escreve vários contos, entre eles, os romances Os Irmãos Tanner, O  Ajudante e Jakob von Gunten, as preferidas de Kafka e Herman Hesse. Tornava-se agressivo quando bebia e dirigia ofensas aos amigos. Retornou à Suíça em 1913, onde passa a morar com a irmã Lisa, no hospício de Bellelay, onde esta dava aulas. No ano seguinte, seu pai morre. Em 1916, seu irmão Ernst falece de doença mental. Em 1919, o irmão Hermann, professor de geografia em Berna, comete suicídio.

 

Robert já tentara suicídio diversas vezes. Após tantas perdas, o escritor passa a viver em grande isolamento. Mudou-se para Berna, em 1921, onde escreve a lápis os chamados microgramas, de caligrafia minúscula, que foram decifrados entre 1985 e 2000, publicados em seis volumes sob o título Aus dem Bleistiftgebiet (Da Região do Lápis).

 

Internado

 

É internado no hospício de Waldau, em 1929, onde morrera seu irmão Ernst. Após um colapso mental e alucinações, recebeu o diagnóstico de esquizofrenia catatônica. No mês de junho, retorna à escrita. É novamente internado em 1933, no sanatório de Herisau, contra sua vontade. Em 1936, começa a receber visitas de seu admirador e futuro testamenteiro literário, Carl Seelig, também escritor. Carl relataria suas conversas com Walser, no livro Caminhadas com Robert Walser, em 1957. Mais tarde, Robert deixaria de apresentar sintomas de doença mental, mas decide permanecer no sanatório. Em 1943 morre o irmão Karl e no ano seguinte, a Irma Lisa. No dia de Natal de 1956, durante uma de suas caminhadas nos campos de neve, Robert Walser se despede da vida, vítima de um ataque cardíaco. 

 

"Não desejaria a ninguém que fosse eu.
Só eu sou capaz de me suportar.
Saber tanto,
ter visto tanto e não dizer nada,
ou quase  nada"

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Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n'alma
É germe - que faz a palma,
É chuva - que faz o mar!

 

Castro Alves

 

 

DEMOCRACIA
Posso não concordar com uma
só palavra sua, mas defenderei até a
morte o seu direito de dizê-lo.

François-Marie Arouet, Voltaire

 

 

O fim do mundo
 

João Cabral de Melo Neto

 

No fim de um mundo melancólico
os homens lêem jornais.
Homens indiferentes a comer laranjas
que ardem como o sol.


Me deram uma maçã para lembrar
a morte. Sei que cidades telegrafam
pedindo querosene. O véu que olhei voar
caiu no deserto.


O poema final ninguém escreverá
desse mundo particular de doze horas.
Em vez de juízo final a mim preocupa
o sonho final.

 

 

O segundo maior patrimônio  em

nossas vidas são os amigos sinceros.

 

O primeiro, saber distingui-los.

 

Sérgio dos Santos Netto

 

 

Enquanto houver um louco, um poeta
e um amante haverá sonho, amor e fantasia.
E enquanto houver sonho, amor e fantasia,
haverá esperança.

 

William Shakespeare

 

 

Perdi muito tempo até aprender
que não se guarda as palavras,
ou você as fala,
as escreve,
ou elas te sufocam.


Clarice Lispector

 

 

Amanheci em cólera.
Não, não, o mundo não me agrada.
A maioria das pessoas estão
mortas e não sabem,
ou estão vivas com charlatanismo.
E o amor, em vez de dar,
exige.  E quem gosta de nós quer que
sejamos alguma coisa de que eles
precisam. Mentir dá remorso.
E não mentir é um dom que o mundo
não merece...

 

Clarice Lispector

 

 

Livros são filhos imortais

deificando seus pais.

 

Platão

 

 

Ler um livro pela primeira vez é

conhecer um

novo amigo; lê-lo pela

segunda vez é encontrar um

velho amigo.

 

Provérbio chinês

 

 

Quando vemos um gigante,
temos primeiro de examinar a
posição do sol e observar para
termos certeza de que
não é a sombra de um pigmeu.

 

Friedrich Novalis
 

 

Nosso futuro depende de bibliotecas,
leituras e fantasias.

 

Neil Gaiman, escritor britânico

 

 

Toda a minha alma lhe pertence.
Se a minha inteira existência
não fosse sua,
a harmonia do meu ser ter-se-ia
perdido e eu teria morrido.

 

Victor Hugo

 

 

Do meu telescópio,
eu via Deus caminhar!
A maravilha, a harmonia
e a organização do universo só pode
ter se efetuado conforme um plano
de um ser todo-poderoso
e onisciente.

 

Isaac Newton

 

 

Aquilo a que chamamos felicidade
consiste na harmonia e na serenidade,
na consciência de uma finalidade,
numa orientação positiva,
convencida e decidida do espirito,
ou seja na paz da alma,

 

Thomas Mann

 

 

Traduzo assim S. Thomás de Aquino:
há três coisas necessárias à beleza:
integridade, harmonia e luminosidade.
Correspondem essas coisas
às fases da apreensão?

 

Jaymes Joyce

 

 

Todos nós temos um demônio interior.
Em alguns dias, você o controla.
Em outros dias, ele controla você.

 

Dostoiésvski

 

 

E o homem inventou Deus.
E o estranho, o surpreendente
não seria o fato de Deus
realmente existir:
o que, porém, surpreende é
que essa ideia
- a ideia da necessidade de Deus -
possa ter subido à cabeça
de um animal tão selvagem e
perverso como o homem...

 

Dostoiévski

 

 

A verdadeira loucura talvez não
seja mais do que a própria
sabedoria que, cansada de descobrir
as vergonhas do mundo,
tomou a inteligente resolução de
enlouquecer
.

 

Heinrich Heine

 

 

Temos aprendido a voar
como os pássaros, a nadar como
peixes, mas não aprendemos
a sensível arte de
viver como irmãos.

 

 Martin Luther King

 

 

Ler é beber e comer.

O espírito que não lê emagrece como

um corpo que não come.

 

Victor Hugo

 

 

Olhe para dentro,
para as suas profundezas,
aprenda primeiro
a se conhecer.

 

Sigmund Freud

 

Nellie Bly

A história
de Nellie Bly

 

Nellie nasceu  nos Estados Unidos em 1864, com o nome de Elizabeth Jane Cochrane. A jornalista investigativa se internou em um Hospital psiquiátrico por 10 dias. Nellie queria apurar as condições do tratamento das pacientes. Trabalhou com Joseph Pulitzer, dono do NewYork World dando voz aos miseráveis e esquecidos da sociedade.

 

Sua missão era imitar uma doente mental e, assim, revelar as condições do manicômio feminino na ilha de Blackwell's, atual ilha Roosevelt, no East River de Nova Iorque.

 

“Uma ratoeira humana.
É fácil entrar, impossível sair.”

 

Os advogados do jornal retiraram Nellie após dez dias; o hospital não queria liberá-la. Suas reportagens publicadas em outubro de 1887 resultaram em investigações, reformas e na edição do livro de autoria da jornalista: Dez dias em um hospício.

 

"As pacientes recebem tanta morfina e sedativos que acabam enlouquecendo. Imploram por água, mas as enfermeiras se recusam a oferecer um copo. Eu mesma chorei, pedindo água, até minha boca ficar tão seca que não conseguia falar", narrou Nellie.

 

Os abusos físicos e emocionais eram enormes. Com temperaturas abaixo de zero, as internadas tomavam banho gelado e compartilhavam da mesma toalha. A comida era podre, o local imundo, além dos espancamentos recebidos das enfermeiras. Muitas vinham de famílias pobres, imigrantes ou doentes mentais. A polícia recolhia e os juízes enviavam as abandonadas ao manicômio.

 

Em outra investigação, Nellie conseguiu ser presa e compartilhar as condições sofridas na cadeia. Adiante, tentou comprar um bebê e expôs o tráfico ilegal de crianças.

 

Depois da história

 

Nellie Bly, uma das mais famosas jornalistas dos Estados Unidos, mais conhecida por ter feito a circunavegação do globo em 72 dias, simulando a viagem ficcional no livro de Júlio Verne. Faleceu em 27 de janeiro de 1922. 

 

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